Tribo
Perfil-I
à Heitor Matos
Todo domingo ela sobe no Rodoviária Circular em uma parada no Dirceu. Pela janela observa os caras de motos e as meninas com os caras. Enquanto joga o cabelo pra ninguém ela passa a vista por todos os bares da Avenida Principal. Às vezes o jeito dela lembra o de uma louca, mas ela sabe muito bem o que quer, onde quer estar, só faltam as amizades certas.
O short um palmo acima do joelho não a deixa vulgar, mas a expõe assim mesmo e o cabelo ondulado e longo sempre solto. Eu comigo julgo que o que ela mais queira seja a vida de Fernanda, não importando qual fim que esta tomou.
Ela espera um cara alto, mais pelo corpo que pela altura, (às vezes o corpo deixa as pessoas mais altas do que são realmente). Desses caras que chegam na frente, cumprimentam todo mundo enquanto a menina só acompanha pela mão e senta ao lado, fora da roda, na mesa, de pernas cruzadas. Não importa, contanto que ele seja o fodão na roda.
Apesar de eu estar no ônibus quase todo domingo, ela nunca me notou, melhor, facilita o traço do perfil que analiso. Ela procura sempre sentar nas cadeiras altas quando desocupadas, isso é um sinal, ela quer ser vista ao mesmo tempo em que vê pela janela.
O celular na mão como se fosse tocar a qualquer hora, porém nunca levado ao ouvido. A luz do descanso de tela não permanece tanto tempo apagada durante a viagem. Ela nem parece que está no ônibus, está mais do lado de fora, nas paradas, nas praças, nas pizzarias do que do lado de dentro.
Só faltam as amizades certas, enquanto isso ela vai ficar indo ao Centro Espírita André Luiz todo domingo.
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