terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Clandestina


Quase certa de que porto um objeto ilegal.
Me escondo nas páginas e histórias
que eu mesma queria ser autora.
Mergulho no enxuto da imaginação desses contos:
uma estranha no litoral.
Enquanto observo os mergulhantes no mar.

Observo.
Reservo.
Serva das palavras.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Alguns prazeres e dores não devem ser compartilhados




Final dos anos 80
Teresina, Praça Rio Branco, entre as bancas de revista
Sinto o gosto dos velhos quadrinhos
E o cheiro de blues no walkman
Já aparento ser maior de idade
Então, desço pela Payssandú
Rumo a velhos cabarés
Procurando velhas novidades
Teclado e guitarra em Right
Bateria e baixo em left
E a voz de Jim Morrison em todo lugar
Soul Kitchen em som stereo
A beleza com um berro histérico
Um pensamento pousa na minha mente
As putas e os poetas são muito parecidos
Entre um cliente e outro
Um intervalo de realidade
Entre um poema e outro
Um intervalo de realidade
E no cabaré
Vejo putas bonitas e tristes
Deixando homens feios bem alegres
As putas e os poetas são muito parecidos
Porque se prostituir sem se corromper
É uma arte
Enquanto me arrumo
Ela prepara uma velha receita
Spaghetti alla puttanesca
 Ei, mulher! Você pode dividir comigo?
Sinto muito, poeta
Essa é a minha realidade
Que não dá pra dividir
Aprenda essa dura lição
Não faça poemas sobre tudo
Alguns prazeres e dores não devem ser compartilhados


segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sala de Estar



Deve haver lugar melhor que o lar...
Onde não recaia sobre ti outras acusações
Sem mais armadilhas na sala de estar
Ou atores em novas armações
Colecionando martírios
Como bem precioso
É desastre notório
E ciclo vicioso
A bradar delírios
Em pedidos de perdão
É tenso o prelúdio
De medo em solidão
Deve haver alguém para confiar
E mudar tua expressão de descrença
Não deixa o teu rosto enrugar
Nos frios moldes da indiferença...

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Garota Paranóica



Ei, há monstros lá fora
Viram o poço de miséria em que você se escondeu...
Eles querem
Te ter agora...
Já se deu conta que teu corpo não é só seu?
Você não escolheu ter
Mais uma noite promíscua no sujo chão
Tem filha para proteger...
Mas sucumbe a escória deste mundo cão!
Nojo do corpo marcado
Fogo no vestido suprimido!
Tem sido aconchegante
Omitir a forte ânsia de morte?
És escrava do prazer alheio!
E o vazio corrompe o teu seio
Teus vícios escondem em vão
Tua beleza em degradação!
Ei, espancam tua porta
Espero que saiba se defender!
Você não é mais quem costumava ser...
Ri e chora para entreter
Não dê a face para bater!