domingo, 25 de outubro de 2009

ELA

Entrou no carro.
Com a mesma satisfação dos dias anteriores.
Olhou para ele com um olhar que parecia querer penetrar-lhe a alma.
Olhos quentes.
Qualquer lugar lhe serviria.
Uma lanchonete, um restaurante de luxo.
Onde ele a quisesse levar.
Afinal de contas ele era mais um que lhe convidava para sair.
Pela conversa no bar pôde prever suas intenções.
Qualquer mulher no auge de sua dissimulação diria “as piores possíveis”.
Entretanto era a que todas sempre desejavam, e quanto mais cafajeste, mais interessante se tornava.
Acabaram em um quarto qualquer.
Meia luz, roupas pelo chão e respiração ofegante.
Nessas horas, gostava de fazer muitas coisas.
Depois de tudo ele estava exausto.
Deitou-se.
Pronto.
Então já havia chegado o momento certo de agir.
Ainda despida. Sutilmente apanhou algo na bolsa.
Uma arma, cuja penumbra impossibilitava de ser vista.
O frio do aço em suas mãos fazia acelerar seus batimentos.
Os olhos agora expressavam doçura.
Ele ainda exausto, nem conseguia reparar na suavidade de seus movimentos.
Movimentos pausados.
De repente o estrondo do tiro.
Logo após um riso suave.
Agora sim, um vasto prazer mórbido invadia o seu corpo. Todo ele.
Vestiu-se com calma, olhando fixamente para aquele corpo sem vida em sua frente.
Acendeu um cigarro.
Desceu as escadas lentamente, como se saboreasse cada passo.
Na rua já podia ver o raiar do dia.
Olhos frios.

A vida pode ser algo banal.


Fernanda Paz

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